Choveu tanto naquela noite que o Marcelinho achava que tinha acordado meio molhado.
Tão acostumado estava a mandarem ele catar coquinho que partira logo cedo para o pequeno pomar que tinha nos fundos da casa.
Entre os muitos tipos de frutas que haviam por lá a que mais chamava a sua atenção era uma melancia que desde pequenininha parecia mais uma abóbora com seus dois gomos enormes.
E lá foi ele de novo para ver se ela já tinha crescido o bastante e estava madura para ser comida.
Parecia que sim ou naquele dia suas formas pareciam mais definidas, talvez pela chuva e pelo sol de verão ela tivesse crescido mais rápidamente.
Lá estava ela um pouco escondida entre a folhagem com apenas uma pequena faixa do sol da manhã destacando seu contorno com uma auréola dourada.
Aproximando-se da fruta ele teve uma sensação estranha, ela alí meio escondida lembrava algo recente.
Seu sonho!
Naquela noite enquanto chovia ele sonhara com uma melancia bem grande e sorrindo para ele.
Ele ficara surpreso com aquilo que agora era tão real e que há pouco fora um sonho.
Enquanto fixava aquela fruta enorme diante dele enfiou instintivamente a mão no bolso da bermuda e segurou firme no seu pequeno canivete.
De repente, ele sentiu um leve tremor no corpo.
Sentiu como se estivesse diante de um gol com a bola dominada pronto para marcar, e tanto faz, poderia ser de esquerda ou direita.
Bastava um chute naquele canto mexendo um pouco mais o corpo como se fosse driblar o próprio vento, só por estilo.
Manteve o olhar firme imaginando sua decisão...
Ao mesmo tempo, a temperatura do corpo aumentava, parecia que ele flutuva diante daquele resultado previsível.
Ela ali diante dele, a trave vazia, aberta, bastava um pequeno toque.
E ele já se via vibrando, segurando seu troféu e comemorando.
Uma gota, depois duas... de repente aquele gosto intenso de refrigerante gelado borbulhando e descendo pela garganta sêca.
Ainda meio trêmulo e vibrante ele pensava segurando seu pequeno troféu: "fiz um gol com a melancia".
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